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As Aventuras de Jotão 

 

A minha Grande Aventura - Etapas 3 e 4

Etapa 3

Vitória - Abrolhos, perfazendo 170 milhas com previsão de fazer a pernada em três dias. Bem, daí em diante fomos alcançados por fortes ventos e ondas de até três metros, que nos maltrataram durante quase toda a viagem. Muito se usou o motor para ajudar a estabilizar o veleiro. Vela risada e genoa cochada muito ajudaram nos momentos mais críticos de turbulência e descontrole de governo. As condições do tempo melhoravam à medida que nos aproximavam de Abrolhos. Merece um registro especial o grande número de baleias avistadas neste trecho. Muitos filhotes e belíssimas exibições destes maravilhosos animais que pareciam fazer de propósito tantas piruetas nos intermináveis saltos que realizavam. Havia uma inesperada proximidade das baleias com o TIMSHEL, tendo algumas delas e por diversas vezes, navegado em direção aos bordos do veleiro e mergulhando passando por baixo da quilha. Incrível, maravilhoso! Fiquei extasiado e o sentimento que me invadia era o de contemplação, respeito e agradecimento por tão poderosas criaturas estarem ali, nos acompanhando. Já perto de Abrolhos, à noite, no meu quarto de hora, das 00h as 02h, com um luar magnífico no céu, que iluminava longe no meu horizonte, a pouco menos de 50m do veleiro, uma enorme baleia deu um salto espetacular, pelo través de bombordo. Quando percebi o salto que deixou quase todo o corpo da baleia fora da água e já caindo de barriga pra cima e dorso pra baixo, meu coração quase saiu pela boca. O medo foi repentinamente substituído por um deslumbramento e contemplação de tudo aquilo. Logo após o por do sol deste dia avistei a luz do farol de Abrolhos e deste momento até nossa chegada, transcorreu mais 11 horas de viagem. Baixamos ferros já de madrugada. O atraso foi de 24h, navegando cerca de quatro dias. Descansamos e acordamos tarde na manhã seguinte. Passamos um dia em Abrolhos e visitamos a base da Marinha do Brasil no local. Vimos às instalações e o farol da ilha, considerado como tendo um dos maiores alcances dentre os faróis do Brasil. No segundo dia, após o almoço, com previsão de mal tempo, ondas e ventos, principalmente, partimos em direção a Santo Andre, na Bahia.

 

Etapa 4

Abrolhos – Santo André, onde navegamos 107 milhas, em dois dias. Ainda com Abrolhos, pela popa, ao alcance dos olhos, recebemos aviso da estação rádio de Abrolhos sobre o desaparecimento de um veleiro que partira de Vitória e ainda não havia chegado a Abrolhos. Ai por perto do cair da noite, ainda dia claro, percebemos uma grande defensa boiando no mar e decidiu-se averiguar, pois podia ser parte do veleiro sumido. Acidentalmente quando fomos retirar à defensa da água a mesma passou por baixo do barco e um emaranhado enorme de cabos presos à defensa que não vimos antes, enroscou-se no hélice do barco impossibilitando o uso do motor desde então. Já escurecia e tentar tirar o emaranhado do hélice naquele momento pareceu ao comandante arriscado demais. Aos poucos o mal tempo foi se apresentando e durante um longo período as condições foram de vento de 30 ou mais nós e ondas de mais de três metros. Velejávamos no segundo riso e genoa parcialmente enrolada e bem cochada para tentar estabilizar o barco mantendo-o no rumo, o que quase não se conseguia. A situação era tão crítica que o comandante praticamente não deixou o timão do barco. O veleiro adernava violentamente o tempo todo e todos a bordo já bastante esgotados. O comandante cansado de lutar contra os elementos decidiu navegar em capa, ou seja, recolheu as velas, travou o leme no rumo e o barco ficou por conta do vento, da corrente e das ondas. Deu certo a manobra e o barco estabilizou bem e passou a navegar quase na mesma velocidade de antes e pro rumo desejado. Foi como um milagre e um descanso para tanta agonia a bordo. Sem motor e sem as velas e tudo muito molhado. Considero o momento mais crítico dessa pernada quando, momentos antes de se recolher as velas, o barco foi açoitado por uma rajada de vento muito forte e duradouro que o fez adernar de tal forma que a ponta da retranca riscou a água e o veleiro rodopiou, sem governo, pelo menos duas vezes. Por pouco o comandante que estava no timão não foi jogado ao mar. A confiança em que Deus não permitiria que eu começasse minha experiência no mar e terminasse minha vida justamente ali, a confiança no comandante e na máquina, além da esperança de que tudo terminasse logo e bem, era o que me confortava. Aprendi muito mais do que havia imaginado. Finalmente chegamos a Santo André muito cansados e esgotados. Ficamos nesta cidade costeira por alguns dias para reparos nos homens e no barco. Fizemos o trecho em quatro dias, dadas às condições adversas, quando o previsto seria três.

 

 

Jotão (José Nascimento)

 

Mestre-Amador

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